quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Fahrenheit 451 - Ray Bradbury
Não falei deles aqui ainda, mas adoro livros de "distopia futurista", ou seja, livros que mostram a "evolução" da nossa sociedade, mas com uma visão pessimista de como essa evolução aconteceria. Livros como Admirável Mundo Novo e 1984, nos quais a sociedade evoluiu, porém o custo dessa evolução é a perda de parte da liberdade, sob um conceito de "organização levando ao progresso", em geral sob ditaduras ou governos totalitários.
Assim, sempre quis ler esse Fahrenheit 451, escrito (visionariamente, eu diria, se a palavra existisse) por Ray Bradbury em 1953. Conta a história de um futuro onde os livros são banidos, e como a tecnologia anti-incêndio se tornou muito eficiente, os bombeiros passaram a ser os responsáveis não por apagar incêndios, mas sim por colocar fogo em livros (o título se refere à temperatura em que o papel pega fogo, supostamente). Nesta sociedade, desenvolveram-se grandes telas de televisão, onde personagens interagem com as pessoas, fazendo o papel de "famílias". O livro conta a história de Montag, um desses bombeiros, que após conhecer uma vizinha mais nova e "subversiva", que gosta de conversar e de contato com a natureza, começa a questionar sua atividade e a se perguntar o que os livros podem ter de tão perigoso a ponto de justificarem tamanha comoção.
O que me impressionou no livro foi, especialmente, a parte onde Bradbury descreve o processo que levou os livros a serem banidos. Não foi uma proibição "de cima para baixo"; não foi um decreto, e sim as pessoas passaram a se interessar cada vez menos por livros, e mais pelo entretenimento rápido e simples. Em vez de livros, passam a predominar resumos, e depois filmes. Além disso, com a população aumentando, criam-se cada vez mais minorias, e cada vez mais era difícil escrever sem que alguma delas se sentisse ofendida. Assim os livros foram se tornando, como diz o livro, "água de lavar louça". Alguma semelhança com a tentativa de "ajustar" a obra de Monteiro Lobato para ser lida nas escolas? Ou de culpar o jornal que publica charges de Maomé em vez dos fanáticos que explodem embaixadas por conta disso?
Não apenas é um livro muito bom, com um final belíssimo, mas também dá muito o que pensar, sobre o que fazemos com nossa liberdade, e sobre o que de fato é a evolução de uma sociedade. Espero sinceramente que continue sendo apenas ficção.
Avaliação: ***** (5/5)
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