quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Reparação (Atonement) - Ian McEwan


Por indicação de uma leitora do blog (obrigado, @laurutsa!), entrei nessa fase "literatura em língua inglesa". Impressionante o quanto eu estava defasado em vários livros muito bons, vácuo que estou tentando diminuir aos poucos (e aumentando o vácuo na conta bancária pra comprar tanto livro, mas aí é outro assunto). Esse foi o que deu origem à série. Confesso que tinha algum preconceito (puramente por desinformação) com livros-que-viraram-filmes-com-a-Keira-Knightley (achava que todos tinham sido escritos no século XIX por Jane Austen ou similares).

Filme inglês de época que se preze tem que ter a Kiera

Obviamente não é o caso aqui (até porque eu, ignorante, não sabia que o livro se passava na época da II Guerra e tinha sido escrito em 2001). A história não tem, a princípio, nada de mirabolante: em 1935, uma garota (Briony), com sonho de ser escritora, após presenciar um encontro de sua irmã com o filho do jardineiro, fantasia uma série de coisas e acaba por acusá-lo do estupro de uma prima. A partir daí, a vida de toda a família sofre uma virada brutal, acentuada pelo início da guerra.



A estrutura montada por Ian McEwan é um dos pontos notáveis. A história é dividida em 3 segmentos: o primeiro conta os acontecimentos que dão origem à história, o segundo é narrado por Robbie (o filho do jardineiro), durante uma retirada, já na Guerra, e o terceiro é narrado por Briony, que, buscando a tal reparação do título, se alista como enfermeira em Londres. O primeiro segmento passa um pouco lentamente, mas logo vem aquele sentimento de antecipação de tragédia, você fica esperando a resolução de todo o conflito, e... o final é absolutamente surpreendente, uma ode à literatura.




O curioso foi eu ter lido esse filme logo após Adeus às Armas. Coincidentemente, ambos retratam a fuga e o horror da guerra em um dado ponto da história. No entanto, as maneiras como cada um deles faz esse retrato são diametralmente opostas: Hemingway usa descrições diretas, diálogos rápidos e narração em primeira pessoa, dependendo mais da observação para entender os pensamentos e desejos das pessoas. Perfeito. Já McEwan faz justamente o contrário: explora profundamente as mentes de seus protagonistas, destrinchando cada pensamento e ainda assim conseguindo surpreender o leitor. Perfeito também. A passagem em que a mãe de Briony e Cecilia está deitada no quarto com enxaqueca, mas ainda assim sabe tudo (sabe mesmo?) que está se passando na casa a partir dos sons e silêncios é sublime.

Quem gosta de ler textos bem escritos deveria ler esse livro. Se possível, antes de ver o filme (não vi ainda, mas a experiência de ler sem saber o que vai acontecer é insubstituível nesse caso). O mais engraçado disso tudo é que quando comecei o blog, meu objetivo era fazer com que pelo menos uma pessoa viesse a ler algo que ainda não tinha lido ou que nunca teria pensado em ler. Mal sabia que essa pessoa seria eu mesmo.

Avaliação: **** (4/5)

Nenhum comentário:

Postar um comentário