quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Últimas Palavras (Mortality) - Christopher Hitchens
Recém-lançado em português, o último livro do famoso e polêmico intelectual, orador, jornalista e escritor Christopher Hitchens não é o típico livro sobre os quais escrevi aqui desde que comecei o blog. Também não é o típico livro de Hitchens (autor, por exemplo, de Deus Não é Grande: Como a Religião Envenena Tudo), conhecido não apenas por suas visões diretas e por seu jeito mordaz e agressivo de defender essas visões. É um livro (infelizmente) curto, composto de pequenos textos escritos após seu diagnóstico de câncer em 2010 até sua morte em dezembro de 2011, contando a evolução de seu tratamento e como a doença afetou (ou não) suas visões e convicções sobre a vida.
Dito assim, parece apenas mais um livro de pseudo-lições e ensinamentos sobre a vida, no estilo auto-ajuda que eu tanto abomino. Posso garantir que não. O livro alterna passagens reais contando sua vida pós-diagnóstico (tratamento, efeitos colaterais, preocupações e pensamentos), como a doença afetou seus relacionamentos com as pessoas (ensaiando até dicas de "etiqueta" para conversas com alguém que tem câncer), suas visões sobre como a sociedade encara a morte, além das já tradicionais críticas às religiões e instituições.
Mas os melhores trechos do livro são aqueles em que ele descreve seus sentimentos ao encarar uma cada vez mais provável morte. Ateu convicto e ativista, é tocante ver como a sua consciência do final de sua existência o faz ao mesmo tempo lamentar as experiências que não vai chegar a ter e valorizar as que teve ou ainda tem. Em alguns momentos, se anima com alguma perspectiva de melhora ou cura, em outros deseja que tudo acabe logo. Se entristece com as pequenas coisas, como saber que não vai ver o casamento dos filhos ou duvidar se vai conseguir ver novamente a Inglaterra onde nasceu. Em outras, fica feliz ao refletir sobre o que já fez ou sobre pessoas que falam sobre o impacto que ele teve em suas vidas. Mostra fidelidade às suas convicções (inclusive zombando dos que atribuíram seu câncer ao fato de criticar Deus e dos que acharam que ele se converteria por desespero). Mas acima de tudo, festeja a vida e seus momentos felizes, ao mostrar que a viveu não como um meio para atingir um fim, buscando uma eventual salvação ou vantagens no pós-vida, mas sim como o fim em si, e como não nos damos conta de que é finito até que este fim se aproxime.
E confesso que me emocionei no posfácio, onde sua viúva descreve cenas de sua vida e as coisas de que mais sente falta. Assim como me emocionei com um texto semelhante da esposa de Carl Sagan. Um dos efeitos imediatos de ser ateu é a consciência da finitude da vida, e o inconformismo ao ver pessoas desperdiçando esse tempo fugaz tentando julgar e controlar uns aos outros em nome de uma eventual recompensa em uma vida seguinte. Assim, para mim foi inspirador ler essa (triste) ode a viver a vida enquanto a temos. Dar valor ao que temos, às pessoas à nossa volta, e não perder tempo com o que não tem importância. Algo que é tão simples, e ao mesmo tempo tão pouca gente faz. E agora, quem começou com a auto-ajuda barata fui eu... espero que me perdoem :-)
Avaliação: **** (4/5)
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Caríssimo,
ResponderExcluirnada a perdoar.Não se trata de "auto ajuda barata" e sim da patética constatação de,como disse Druummond,"A vida não chega a ser breve".Apenas isso.
Vera